quarta-feira, 12 de março de 2008

Os políticos e a imprensa

Episódios recentes de uma conturbada relação entre os políticos e o quarto poder



por FELIPE INSUNZA

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IMPRENSA X GOVERNO
Qualquer iniciativa intervencionista do governo Lula na área de comunicação é vista com enorme desconfiança por seus opositores. Isso se deve a um passado recente de conflitos entre o presidente e a grande imprensa, acusada de elitista e golpista por alguns governistas e membros do PT. Os episódios mais notáveis desse constante litígio são:

RESISTÊNCIA A COLETIVAS
Durante seu primeiro mandato, Lula concede somente uma entrevista coletiva formal, em 2005. Entretanto, alega-se que entrevistas informais (“quebra-queixos”) são freqüentemente feitas quando da realização de eventos. Ao assumir o segundo mandato, Lula prometeu que daria tantas entrevistas que os jornalistas cansariam de ouvi-lo. Segundo dados da SECOM, em 2007 foram realizadas 152 entrevistas (73 improvisadas) nos mais variados formatos, o que inclui 6 coletivas à imprensa nacional e 5 à internacional.

O CASO LARRY ROHTER (2004)
Depois de insinuar que os hábitos (supostamente) alcoólatras do Presidente Lula devem ser motivo de preocupação nacional, o correspondente do The New York Times no Brasil Larry Rohter chegou a ter seu visto temporário de jornalista cancelado.

CONSELHO FEDERAL DE JORNALISMO (2004)
Lula encaminha projeto de lei sobre a instituição de um Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), assim como suas instâncias regionais. Esse órgão seria o competente pela regulação do exercício jornalístico quanto a seus fundamentos éticos e como categoria profissional – não necessariamente vinculado ao diploma. Oposição e grupos organizados da imprensa conseguem barrar a proposta alegando ataque à liberdade de expressão, condição sine qua non ao exercício do jornalismo independente.

O FIM DA RCTV NA VENEZUELA
(MAIO E JUNHO DE 2007)
“É um problema da Venezuela”. Foi o que disse Lula após a não-renovação da concessão do canal RCTV, até então o maior da Venezuela, por Hugo Chávez. O presidente do Brasil ainda qualificou o ato como democrático, pois atendeu à deliberação do Senado bolivariano. Após sua ocupação por militares em maio, entrou em seu lugar a TVes (Televisora Venezolana Social), de caráter público.

NADA DE BLOQUINHOS! (DEZEMBRO DE 2007)
Em tradicional café da manhã com jornalistas, próximo ao final do ano, a assessoria de imprensa de Lula proíbe o uso de canetas, bloquinhos e gravadores. Posteriormente são disponibilizadas a transcrição e algumas imagens do encontro.

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IMPRENSA X OPOSIÇÃO
Outros casos polêmicos quanto ao acesso e à divulgação da informação também envolvem a política brasileira, inclusive a dupla oposicionista PSDB-DEM:

A TV CULTURA AJUDA ALCKMIN (2006)
A TV Cultura é acusada de beneficiar Geraldo Alckmin (PSDB-SP) durante a campanha eleitoral para presidente durante o Jornal da Cultura. A denúncia surgiu em nota do Estadão (03/08/2007) constatando que o jornalístico dedicou mais tempo ao candidato tucano que a todos os outros juntos. Lembrar que Alckmin era governador de São Paulo à época e que o Estado é o sócio majoritário da emissora. O canal – de caráter público – defende-se alegando que no dia havia mais assunto (pauta) sobre o tucano.

SALETE LEMOS CRITICA BANCOS
E É DEMITIDA (JULHO DE 2007)
Após criticar bancos e o governo brasileiro durante jornalístico da TV Cultura, a jornalista Salete Lemos foi demitida por justa causa pela emissora paulista. Alegando pressões de um banco patrocinador e da Febraban, Salete atacou: “A Cultura perdeu o compromisso com a liberdade editorial”. Já Markun afirma que a demissão faz parte de uma reformulação editorial, que contou também com outras dispensas. Quando confrontada com a hipótese de que seu afastamento deu-se pelo novo projeto, ela afirmou que o Jornal da Cultura – em que era âncora – dava 3 pontos no ibope, o que era muito para a estrutura oferecida pela TV.


JORNAIS OFICIAIS A SERVIÇO
DE GOVERNANTES (DEZEMBRO DE 2007)
Em estudo intitulado “Gutenberg em bits - Breve panorama dos Diários Oficiais brasileiros”, da ONG Transparência Brasil, é questionado o trabalho dos Diários Oficiais eletrônicos no Brasil. Critica-se a ausência do serviço digital em alguns estados e, quando há, carecem de organização ou condicionam o acesso a assinaturas pagas. A denúncia mais grave, contudo, recai sobre o uso do canal como instrumento de promoção de governantes, o que é proibido pela Constituição, com destaque aos de Alagoas e Minas Gerais pela exibição de várias fotos e citações incluindo os governadores tucanos Teotônio Vilela Filho e Aécio Neves.

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