Além de mecanismos oficiais como a Ancine e a Lei do Audiovisual, o patrocínio por empresas estatais como a Petrobrás sempre foi um meio extra-orçamentário de apoio do governo a algumas causas. Há, então, o risco de que mais de nosso dinheiro seja deslocado para essas produções independentes, plurais, experimentais, alimentando o “corporativismo cultural”. Como isso deverá refletir nas receitas e grades das TVs privadas?
Começo pelo fim: não interfere em nada na receita das empresas. 2007 foi o melhor ano da Globo no que respeita à receita. Pode pesquisar. Isso é besteira. Sim, vão gastar o nosso dinheiro financiando esses artistas de miolo mole apaixonados pelo “povo”, enquanto compram pó do traficante bacana do morro e depois fazem passeata de branco contra a violência. E, claro, o financiamento público ainda vai ajudar muito cineasta a comprar apartamento na Vieira Souto, no Rio. Como sabemos, os filmes que eles fazem são uma bosta, mas eles são uns gênios. Há exceções? Há. Tropa de Elite não precisa do estado.
O Projeto de Lei 29/2007 propõe a limitação de 50% de canais estrangeiros em pacotes de TV por assinatura, além de outras medidas protecionistas ao conteúdo nacional e independente, questionadas pela ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura). As liberdades de expressão e escolha correm perigo no Brasil?
Mais um delírio esquerdopata. Acho que isso não dará certo porque não se tem tanta produção nacional assim. A menos que se tirem dos arquivos grandes clássicos do cinema nacional como “Aluga-se moças” (assim mesmo, com o erro de concordância) ou aquele que lidera a minha top list do, como direi?, programa de substituição de importações para o cinema: “Oh, Rebuceteio!”. É a cara do Brasil.
Como você vê a iniciativa do governo em promover a imagem do país (vide BBC, TVE, RTP, NHK) através da TV Brasil? É só mais uma iniciativa ufanista?
Isso é uma tolice. Dizer que a BBC promove os valores do Reino Unido é pura besteira. A melhor forma de promover o Brasil lá fora — e aqui dentro — é prender mensaleiros, aloprados e ladrões. É parar de pôr em celas masculinas meninas de 15 anos; é meter em cana, como se fez, PMs bandidos que aplicam choques elétricos. O resto é bundalelê ufanista. Nesse caso, estou com Samuel Johnson: o patriotismo é o último refúgio de um canalha. Se queremos um Brasil melhor, precisamos odiá-lo profundamente. Vamos nos lembrar de Drummond: precisamos preservar o Brasil de nossos carinhos. O Brasil está cansado de nós, de nosso afeto...
Na Inglaterra, foi adotada a TV License, uma contribuição compulsória por domicílio para financiar a BBC. O que você pensa da adoção de uma TV License no Brasil?
Boa pergunta porque se fala muito da BBC. Ok. Então eu quero, primeiro, um governo parlamentarista, com voto distrital e representação plena, como há no Reino Unido: cada homem, um voto. Até que tivermos um presidencialismo imperial e até que o voto de um acreano valer o de cinco paulistas, não dá para ter uma TV como a britânica. E vejam que ainda nem pedi uma família real, né? Sou prudente: o máximo de sangue azul que temos no Brasil são as varizes de uma representação esclerosada. Ou as de Lula e Dona Marisa, com seu maiô branco, com uma estrela vermelha, parecendo uma bomba de gasolina da Texaco.
Como você vê a cobertura da mídia sobre o tema da TV Brasil?
Exceção feita à da VEJA, que, de fato, deu destaque para o assunto, muito ruim. Os grandes jornais resolveram que se tratava de uma guerra contra a Globo e preferiram ficar com o “outro-ladismo”. Os veículos do grupo Globo temeram ser acusados de fazer defesa em causa própria e também foram muito discretos na crítica.
[[Leia ainda: Os tocadores de tuba >>]
quarta-feira, 12 de março de 2008
ENTREVISTA COM REINALDO AZEVEDO - PARTE 3
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