sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Por que o jornal O ARAUTO não vingou?

Alguns fatores podem ser apontados para o fracasso do jornal O ARAUTO, que não conseguiu prosseguir como uma publicação jornalística independente, após ser - em sua Edição ZERO - subsidiada com recursos do CAVC.

Dentre suas conquistas, ressaltamos que o financiamento pelo CAVC proporcionou aos alunos da FEA e de outras faculdades paulistas a chance de conhecer uma nova proposta de jornalismo universitário - diametralmente oposta à de O VISCONDE. No caso do último, sinalizamos para a possiblidade do corte de alguns custos (como o de impressão) em até 3X, sem nenhum prejuízo editorial ou de qualidade gráfica. Logrou-se também apresentar a responsabilidade editorial e a apuração como as diretrizes de um projeto de jornalismo universitário feito por não jornalistas.

Como aprendizados e barreiras, constatamos a burocracia brasileira e o medo do apoio a causas aparentemente políticas - como um jornal numa faculdade pública. Criam-se vários empecilhos: ter uma razão social, um jornalista responsável, um lugar físico, uma conta bancária ou um estatuto. Além do mais, concorrer com leis de incentivo à cultura tão permissivas é sempre muito difícil, afinal, que empresa colocará seu nome num jornalizinho panfletário se pode patrocinar uma peça de teatro com um grande staff e estrutura?

Entretanto, creio que nossas falhas e seus impactos negativos serão os mais persistentes. A não concretização do projeto deu razão a aqueles que o julgavam pretensioso, ousado demais. Demonstrou também que esses projetos estudantis não são tão incentivados pela compensação futura - seja financeira ou pessoal - e mais pelo retorno pessoal imediato. Aí o trade-off Provas vs Jornal tem um vencedor certo, afinal, algo que é feito voluntariamente só pode ser um bônus, jamais uma obrigação. Por que apurar e trabalhar numa matéria informativa (que leva muito tempo) se é possível escrever o que se bem entende, jorrar opiniões e agradar ao próprio ego (e não ao leitor)?

Por que buscar o financiamento junto a patrocinadores e pretender uma "liberdade editorial" se é possível convencer-se da qualidade e independência de seu próprio artigo a ponto de o achar merecedor de um patrocínio estatal? Lembrando que esse patrocínio vem do imposto do cidadão comum ou mesmo do aluno comum, que não sabe se pode confiar no que está escrito ou se aquilo tem alguma relevância/interesse.

Mas, sem dúvida, a maior falha veio de nós mesmos, do Conselho Editorial. A falta de motivação, de cobrança, de autocobrança e de responsabilidade para com os colaboradores e leitores foi a grande culpada pela "falência" do jornal. Culpar ao estado ou ao capital privado por um projeto que não teria a mínima obrigação de existir é rejeitar o liberalismo que sempre nos norteou. É como um atleta reclamar que não tem incentivo, uma vez que nunca teve a mínima obrigação se ser atleta. Ou você já ouviu alguém dizer para um jovem: "VAI LÁ, DÊ TRÊS PULINHOS NUMA PISTA E CAIA NUMA BANCA DE AREIA. SÓ ISSO QUE VOCÊ PODE FAZER DE SUA VIDA". Não devemos ter dó de nós mesmo, e sim vergonha, decepção. Sempre defendemos a escolha pessoal, não é na hora do aperto e da prestação de contas que abriremos mão dessa premissa.

Fica aqui um pedido de desculpas àqueles que contribuíram para a Edição ZERO e UM (que não foi finalizada), a aqueles que acreditaram no jornal e prestaram um apoio gratuito - de coração e crença mesmo - a um projeto que teria tudo pra ser louco.

Nos links a seguir disponibilizarei os artigos, entrevistas e matérias de nossos colaboradores, que não mais terão seu árduo esforço compensado numa folha de papel que fique de recordação. Mas, como a informação estará presente aqui na tela do mesmo modo que no papel, vale e devemos publicá-la, apesar do enooooooooorme atraso.

Não posso garantir a sobrevida desse BLOG. Muito menos a qualidade e diversidade de seus posts, já que aqui não haverá mais aquele grupo fechado com um só objetivo e uma grande sincronia de idéias. Mas fica o registro de impressões, comentários de alguns alunos e profissionais da FEA-USP.

Um enorme abraço a todos.

Felipe Insunza
participante do Conselho Editorial do extinto jornal universitário O ARAUTO.

Um comentário:

Anônimo disse...

È UMA PENA que o referido jornal passou por essa situação que uma hora ou outra,a imprensa brasileiro passa.