domingo, 19 de outubro de 2008

Conselhos aos alunos. Clássicos do Delfim.

Uma última pergunta: qual é o conselho que o sr. daria para os alunos da FEA que pretendem alcançar como economistas uma carreira como a sua?
Dediquem-se às leituras mais amplas do que simplesmente a pura técnica. A História. A História do Brasil é fundamental para o economista. O Brasil foi vítima de coisas incríveis. Se não tivéssemos mandado embora o José Bonifácio, seríamos hoje os Estados Unidos. É preciso entender porque é que nós não somos. Pense que com o Zé nós teríamos acabado com a escravidão em 1827 e teríamos feito educação total com a Constituição de 1824. Todas as lutas da regência foram produzidas por problemas tributários. Farroupilha, Praieira, Sabinada, todas. O Brasil é um país federal, não adianta tentar ignorar isso. Cada vez que se centralizou, na primeira liberação emerge o federalismo.
Quem é que vai aceitar essa redistribuição de royalties construída na Constituição de 1988 e que está aí hoje? Por que o cidadão de Roraima não tem acesso aos royalties? Ou o petróleo pertence aos cariocas? Ou aos paulistas? O petróleo não é da Petrobras, não. É da nação brasileira.
Valorizou-se a ação da Petrobrás porque se descobriu petróleo. Tudo bem. Mas o que deveria ter valorizado é o royalty a ser entregue aos brasileiros, não importa se ele está em Roraima ou se ele está no Rio de Janeiro.
É preciso aprofundar o estudo das instituições brasileiras. História não são apenas os fatos históricos, mas também como essas instituições foram evoluindo, como elas estão hoje, e o que precisamos fazer delas se quisermos ter o crescimento que precisamos. Porque o problema básico, hoje, é a restrição externa, já que a situação energética está resolvida. Estamos gozando uma expansão do mundo, mas daqui a 20 anos nós seremos 250 milhões de sujeitos e temos que dar emprego para 140 milhões. E empregos decentes. É a única coisa que interessa. Mas não faremos isso exportando matérias-primas e produtos agrícolas.
Nós estamos envolvidos de novo na miopia malthusiana. Todo o desenvolvimento tecnológico é na direção de liberar mão-de-obra e terra. Se alguém pensa que para produzir etanol vai precisar de mais terra, está completamente perdido. Hoje se produz um litro de etanol com um terço da terra que se precisava há 15 anos. Daqui a 10 anos se produzirá com vinte avos, porque o grosso do etanol não será produzido nem na terra e, sim, por algas, no mar. O economista tem que aprender, incorporar, a questão tecnológica.

Pensar o mundo além das fronteiras da economia. É isso?
Exato. Não adianta... Mesmo porque a economia está inserida num corpo social. Ela é parte desse corpo, ela não controla esse corpo.


Nenhum comentário: