Como as oposições – principalmente PSDB e DEM – devem reagir a tais medidas: radicalizando o processo e impedindo a formação da EBC ou tentando imprimir-lhe um caráter mais público e menos estatal, governamental?
O DEM entrou na Justiça contra a TV Pública — ou melhor, contra a MP que a criou, o que é inconstitucional a meu ver. O PSDB, para variar, fez críticas discretas. Eu sempre gosto de confronto. Entendimento a gente faz pra namorar. Entendimento é para fazer sexo, embora, às vezes, pareça briga (risos). Política tem de ser confronto, mesmo quando parece sexo...
Os principais nomes envolvidos na criação e na gestão da TV Brasil – Franklin Martins, Teresa Cruvinel, Helena Chagas – indicam alguma diretriz para esse projeto?
Era gente que já tocava flauta para o governo Lula quando atuava na grande imprensa e que agora vai tocar tuba. Não mudam de ramo: continuam na área do instrumento de sopro, mas agora de forma mais contundente, não é? Quando foram escolhidos para a tarefa, confesso que me surpreendi um pouco: não porque não confiasse na subserviência do grupo. Sempre confiei. É que achei que procurariam disfarçar um pouco. Mas o governo Lula é assim mesmo. Há aquela máxima segundo a qual a mulher de César, além de ser honesta, tem de parecer honesta. O governo Lula inovou: ele não é honesto. E também não quer parecer honesto. Nesse sentido, é uma gente muito sincera...
Como se insere a criação da EBC num contexto em que o presidente Lula e o PT criticam um suposto “golpismo” da imprensa brasileira, além de tentar instituir um Conselho Federal de Jornalismo?
A resposta já está na sua pergunta. Tentaram censurar a imprensa com aquela tolice de Conselho. Deram com os burros n’água. Agora, tentarão manipular a opinião pública com a EBC. Sabe o que vai acontecer? Vão torrar R$ 800 milhões por ano, e de nada adiantará. Estado não sabe fazer TV. Nem aqui nem no resto do mundo.
Em entrevista ao site do jornalista Paulo Henrique Amorim, Marilena Chaui declarou que os meios privados de imprensa inventaram a "crise aérea", instalando no país um clima de insegurança e tratando como um problema nacional aquilo que considerou um pequeno desajuste que só prejudicava as elites brasileiras. Uma televisão pública não serviria para corrigir esse tipo de atitude denunciado pela filósofa?
Quem falou? Marilena Chaui é a Tati Quebra-Barraco da Academia. Seu funk acadêmico está desmoralizado, coitada! E deu entrevista a quem? A Paulo Henrique Amorim, o homem do “bispo” Edir Macedo! Santo Deus! Isso não é entrevista, mas atentado violento ao pudor. É verdade: a imprensa criou os quase 400 mortos da crise aérea, não é? As filas nos aeroportos, a sem-vergonhice na Anac, sua descarada politização, tudo culpa da mídia... Acho que Marilena Quebra-Barraco deve voltar à sua tarefa intelectual de fundir o pensamento de Spinoza (que ela escreve erradamente “Espinosa”) com o de Delúbio Soares. O primeiro cuida do espírito, e o segundo, da matéria. Marilena é só um cadáver intelectual que ainda procria.
Um Conselho Curador imposto pelo presidente da República não tende à demagogia ou ao viés ideológico?
Tenderia. Mas o PT é esperto. Se há lá um rapper como MV Bill com suas bobagens sobre cultura da periferia, há “conservadores” como Delfim Netto e Cláudio Lembo. Todos sob a presidência de um peemedebista como Belluzzo. Como já lhes disse, no conselho, não haverá condução ideológica. Haverá apenas bagunça e impossibilidade de se formar uma maioria contra a vontade dos quatro ministros.
Você acredita que o Conselho terá um papel executivo ou apenas representativo? Como formar consenso em uma composição tão heterogênea?
Será apenas consultivo, mas com poder, por exemplo, para demitir a diretoria executiva. É impossível haver composição. O máximo de integração que imagino é MV Bill cantando rap, e Cláudio Lembo chacoalhando o “popozão” — ou popozinho, né?, já que ele é magricela.
Ou, sei lá, penso em Delfim tentando explicar ao MV Bill a importância de pedir mudanças na lei que regula os portos secos, uma área em que ele sempre fez bastante lobby... Quem sabe o “cantor” faça algumas rimas para o economista... O debate entre Boni e o empresário que fabrica lataria de ônibus deve ser imperdível.
A TV Brasil tem mesmo objetivos restritos à difusão de conteúdo educativo e cultural? Levando-se em conta o dinheiro investido, é possível alcançar patamares de audiência consideráveis?
É claro que não. Os objetivos são políticos. O tal conteúdo educativo e cultural, no limite possível, já é desempenhado pelas TVs ditas comerciais. Ocorre que não dá para misturar as estações. Quem tem de educar é a escola, não é a TV; são os professores, não a Xuxa. A Xuxa serve mesmo pra pular, dançar e passar alguns valores consensuais da sociedade: “Seja bonzinho, estude, coma direito”. E, claro, ela vai aproveitar para vender DVD e sandália. Não há mal nisso. É o capitalismo que financia o negócio. Quem alfabetiza, debate e problematiza a sociedade é a escola. Achar que se pode fazer isso na TV é sandice, burrice, mistificação pura e simples.
Ainda que a TV pública gastasse por ano os R$ 7 bilhões que a Globo investe, a audiência seria pequena. Os profissionais da chamada TV Pública odeiam o público. Acreditam que tudo o que dá audiência é ruim e apelativo. Vejam as aulas de filosofia da TV Cultura. Quem assiste? Será que ninguém vê porque aquilo é muito profundo? Não! Ninguém vê porque é insuportavelmente chato, pretensioso e irrelevante. Se você quer ter aula de filosofia, não vai escolher a TV como o melhor meio para atingir seu objetivo. Busca a universidade. Se quer glamour e só parecer inteligente, vai assistir a aulas-palestras numa dessas butiques disfarçadas de café filosófico. O que Franklin quer é ter um jornal matutino que paute a grande imprensa. Nada mais. O resto é desculpa.
Ah, sim, e teremos, talvez, um pouco de maracatu, bumba-meu-boi, catira... A empulhação vai folclorizar o subdesenvolvimento para disfarçar a incompetência técnica. E, claro, assistiremos àquelas lavadeiras cantando na beira do rio; as rendeiras entoando hinos antigos... Vocês sabem: o povo, quando não tem o que fazer, em vez de coçar o saco, canta. O povo é exibido: é acender a luz e ligar a câmera, e ele desanda a cantar suas modinhas. Será, assim, um troço meio Regina “Casebre”, mas com apelo um pouco mais rural, mais caboclo. Ou seja: se não houvesse alternativa, as pessoas prefeririam a injeção no olho. Como há, elas vão ver a Rede Globo. Felizmente.
[Leia a entrevista com Reinaldo Azevedo - Parte 3 de 3 >>]
quarta-feira, 12 de março de 2008
ENTREVISTA COM REINALDO AZEVEDO - PARTE 2
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Um comentário:
Não tem maior importância, mas o Beluzzo, embora ligado historicamente ao PMDB, está hj filiado, se não me engano, ao PPS.
MARCO LOSS
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