quarta-feira, 12 de março de 2008

Mania de download

O Radiohead inova, a EMI afunda e o mercado fonográfico não sabe mais para onde ir

texto e revisão: RODRIGO CHAMIS

Continua calorosa a discussão sobre os direitos autorais. Todo o dia a mídia mostra uma série de pessoas defendendo diferentes pontos de vista sobre o caso. O download de músicas tem se popularizado muito desde o começo dos anos 2000. Essa popularização tem motivos aparentemente simples. O primeiro é, obviamente, o avanço grande da tecnologia nesses últimos anos no setor de informática. O outro, não menos óbvio, é que ouvir música é muito fácil. Você pode plugar seu fone de ouvido em qualquer computador, gravar um CD ou sair por aí ouvindo um iPod. Isso não acontece com outras mídias. Imagine, por exemplo, como é chato ler um livro em um monitor.

NAPSTER
Desde que decidiram distribuir gravações de músicas em massa seja em vinil, fitas ou CDs, sempre houve pirataria e gente copiando as músicas de seus artistas preferidos. No passado isso parecia não afetar muito nem gravadoras nem artistas que ganhavam rios de dinheiro.

Tudo começou a mudar em 1999, ano de lançamento do Napster. De forma muito rápida foi possível ter acesso ao maior acervo de músicas do mundo de forma gratuita. E, ao contrário do que acontece quando compramos um CD pirata, quando baixamos uma música de um amigo, não estamos contribuindo com o tráfico de drogas.

Os usuários adoraram a novidade. Alguns artistas também aprovaram, pois desse modo sua música poderia ser ouvida em todo o mundo por gente que jamais teria acesso a ela. Outros artistas e suas gravadoras (aqueles que ganhavam rios de dinheiro) odiaram a idéia.

Foi o caso do Metallica e do Dr. Dre que fizeram listas enormes de nomes de usuários do Napster que supostamente estariam distribuindo ilegalmente suas músicas. Esses artistas, encabeçados pelo baterista Lars Ulrich, ameaçaram abrir um processo contra esses usuários (eu poderia estar nessa, nunca saberei). O resultado foi, obviamente, um tiro no pé. O que esperar de músicos que ameaçam processar seus fãs? Toda essa situação é ilustrada em um comercial lançado no Vídeo Music Awards, premiação da MTV americana, na edição do ano 2000. Nele, Ulrich discute com um fã (o apresentador da premiação daquele ano, Marlon Wayans) sobre como dividir suas músicas com outras pessoas é o mesmo que dividir seus pertences como a cama, o computador e as roupas de Wayans que são roubadas de sua casa (veja o link no final da matéria). Em outras palavras, foi formada uma disputa entre fãs e músicos.

Em 2002 o Napster foi obrigado a encerrar as atividades. Surgiram diversos novos mecanismos de troca de arquivos. E o Metallica continuou com a imagem manchada perante seus fãs, fato agravado pelo álbum St. Anger lançado em 2003 que não agradou.

Alternativas
A discussão tomou novo fôlego no final do ano passado, após o tão esperado lançamento do sétimo álbum de estúdio do Radiohead.

A banda de Thom Yorke era forçada por contrato com a EMI a lançar seis álbuns da maneira tradicional - e por maneira tradicional de lançar um CD refiro-me a lançamento da obra em lojas com propagandas nos pontos de venda, participação em programas de entrevista, outras aparições para promoção do álbum e finalmente uma turnê mundial, que por acaso nunca chegou na América do Sul. Acabado o contrato firmado no início da carreira, a banda decidiu abrir mão desse modo tradicional e lançar seu novo álbum apenas para download. O internauta entrava no site e escolhia o valor que quisesse pagar para baixar o álbum, podendo até não pagar nada. Os números sobre os downloads de In Rainbows não foram divulgados. Mas pelo que foi detectado em pesquisas informais, cerca de 60% das pessoas que realizaram o download não pagaram nada. Dos outros 40%, a maioria teria pago cerca de 6 libras pelo álbum.

Após alguns meses no ar o site foi desativado e a banda decidiu lançar o CD em lojas através de diversas gravadoras independentes em todo o mundo.

Mas a relação do Radiohead com a distribuição de músicas online é mais antiga. Mesmo antes do lançamento do CD Hail to the Thief (2003) os fãs já cantavam as músicas novas nos shows. Isso impressionou muito o vocalista Thom Yorke que começou a adotar abertamente uma postura receptiva aos novos modos de distribuição de informação.

E para quem está pensando que isso é novidade, engana-se. Em 2002 os alemães da banda experimental Einstürzende Neubauten lançaram o álbum Gemini da mesma forma escolha-o-preço de In Rainbows.

Até antes disso a banda de Chicago, Wilco, lançou o álbum Yankee Hotel Foxtrot em seu site para download gratuito. A mesma coisa fizeram os pernambucanos do Mombojó em 2004 com nadadenovo.

Mas por que disponibilizar as músicas gratuitamente e não ganhar dinheiro com vendas? Simples. Se você distribuir de forma gratuita e legal suas músicas, por exemplo com uma licença Creative Commons, cada vez mais pessoas tem acesso as suas músicas. Com uma legião maior de ouvintes as bandas conseguem um público muito maior e mais fiel do que conseguiria caso não houvesse esse tipo de distribuição. Assim conseguem mais shows e shows mais lotados e ganham mais dinheiro. No caso específico do Mombojó houve até uma bem sucedida turnê internacional que sem dúvida foi beneficiada pela distribuição das faixas de nadadenovo.

Incompetência
Quando falamos de música independente, basicamente nos referimos a todo tipo de música que não tem relação com nenhumas das chamadas gravadoras majors. São estas: EMI, Sony-BMG, Universal e Warner.

E já que estamos falando em majors, recentemente a EMI foi adquirida por um fundo de "private equity" chamado Terrafirma. O negócio foi firmado em nove milhões de reais. As primeiras ações dos "novos donos" da EMI foram: a demissão Tony Wadsworth, um velho conhecido responsável pela gravadora no Reino Unido, a demissão de dois mil funcionários (pra quem não sabe a EMI tinha cerca de cinco mil empregados espalhados pelo mundo), e um pedido aos artistas para que estes se empenhem mais na promoção de seus discos. Analisando bem o mercado fonográfico no momento, está na cara que um aumento na promoção dos álbuns vai gerar um aumento no número de downloads ilegais muito maior que o aumento das vendas de CDs.

O resultado das medidas foi catastrófico. A demissão de Wadsworth não agradou os artistas. O pedido de maior comprometimento na promoção dos álbuns só demonstrou como os novos gestores desconhecem o mercado que estão trabalhando. Resultado: ninguém menos que os Rolling Stones deixaram a gravadora e outros artistas, dentre eles Robbie Williams, Coldplay e The Verve, estão ameaçando uma greve.

Colocando tudo na balança
Os dois tópicos anteriores ilustram bem o mercado fonográfico atual. De um lado as grandes gravadoras estão perdidas e tomam medidas desesperadas patéticas ao verem ano após ano seus lucros despencarem. De outro lado, alguns artistas e gravadoras independentes pareceram entender bem como será o futuro e ao invés de bater sempre na mesma tecla, eles adaptam-se de maneiras criativas e que estão dando certo.

Mesmo com os inúmeros esforços no sentido de barrar a distribuição gratuita de produtos culturais, ainda temos diversos programas de troca de arquivos. Há uma enorme variedade de mp3 blogs de pessoas que dividem seus álbuns preferidos com seus leitores. A MTV parou de passar videoclipes em horário de maior audiência, mas podemos ouvir músicas no myspace ou ver clipes no youtube quando quisermos sem ter que esperar o horário imposto pela televisão ou pelo rádio. O melhor: é tudo de graça!

[Para saber mais >>]

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